Entre eles estão os “arditi”, jovens que nas batalhas se especializaram em penetrar as linhas do inimigo e assassinar sentinelas a golpes de punhal, a arma que, entre os dentes de um crânio, estampa as suas camisas escuras.
Gabriele D’Annunzio, gigante da poesia italiana, aviador e herói de guerra, arrebata os desnorteados. Em 1919 comanda uma ação tresloucada e toma o território do Fiume, hoje na Croácia.
Em Milão, em março daquele ano, o militante enxotado do Partido Socialista Benito Mussolini agrega renegados nos Fasci di Combattimento, cuja estreia nas urnas é um fiasco.
Na alcova, a magnata Margherita Sarfatti ensina bons modos e o gosto pelas artes ao amante Benito. Apresenta-o a D’Annunzio, que insiste para que os fascistas apoiem a resistência utópica do Fiume e ainda mais: uma marcha sobre Roma.
Depois das greves de 1920, empresários financiam e a política coonesta as expedições punitivas de fascistas contra socialistas. A pequena-burguesia engrossa os fasci, e a maré muda.
A governança da Itália apodrece, e em dois anos Mussolini dá o blefe com a ideia roubada a D’Annunzio. Uma multidão de maltrapilhos mal armados se desloca rumo à capital em meio a tempestades. O rei se recusa a decretar o estado de sítio que poderia esmagar em poucas horas aquela boçalidade.
Em “M” (ed. Intrínseca), o soberbo romance de Antonio Scurati agora traduzido no Brasil, Mussolini e seu círculo de escroques contam como transformaram a violência numa catedral.
- Revista Política Democrática Online – Edição 28 - 18 de fevereiro de 2021
- Revista Política Democrática Online – Edição 27 - 22 de janeiro de 2021
- Revista Política Democrática Online 26 - 17 de dezembro de 2020
Fonte:
Folha de S. Paulo
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/viniciusmota/2020/03/mare-fascista-faz-100-anos.shtml