Descrição
Embora com pouca frequência, tive contato com Giocondo Dias durante longos anos, contatos que foram importantes para min. Foi ele quem praticamente me fez entrar para o Partido Comunista. Eu tinha me ligado ao Francisco Julião, às Ligas Camponesas, depois que aquilo era uma loucura, e terminei por me desligar dele e do movimento que liberava. Giocondo soube disso e mandou me chamar. Fui à casa do jornalista e amigo Luiz Mário Gazzaneo e lá me encontrei com Dias. Foi este o nosso primeiro contato pessoal. E que me causou uma impressão muito boa, pela simplicidade, pela modéstia dele. Isso foi em 1963.
Giocondo Dias era uma pessoa muito diferente de tantos líderes políticos nossos. Ele não parecia ser o que era, não parecia ter aquele peso todo. Ao manifestar a sua opinião, a sua visão das coisas, era de uma honestidade muito grande. Analisava suas próprias posições de forma crítica, refletia sempre sobre elas, e dava uma grande importância à autocrítica.
Desde a primeira conversa e nos contatos, mesmo que rápidos, com a figura humana daquele dirigente, passei a constatar que eu tinha uma daquele dirigente, passei a constatar que eu tinha uma imagem totalmente diferente, deformada, do que era a organização comunista. A partir daí, pensei a colaborar com o PCB, ser dele um aliado, até o golpe de 1964, dia em que decidi nele ingressar, “como a única forma de afirmar que não estou derrotado e que a luta continua”.
Depois disso, as referências que eu tive de Giocondo eram muito esparsas. De vez em quando, ele me mandava algum recado por meio de alguém, pois a essa altura a direção partidária caíra em rigorosa clandestinidade, a barra pesou. Mais tarde, quando a coisa aliviou e a poeira assentou, tive outros contatos com o Cabo Dias. E sempre essa mesma impressão: a de uma pessoa séria, modesta, com uma visão muito crítica, sem arroubos despropositais. Uma pessoa muito confiável e de grande tranquilidade. Anos depois, encontrei-o em Moscou, onde eu estava também exilado. Ele havia ido para se tratar e então fui visita-lo algumas vezes, conversando não só sobre política, mas sobre coisas gerais, literatura – nesse terreno ele era uma pessoa que tinha uma boa visão, que sabia das coisas, tinha uma opinião formada, dada sempre com muita reserva, com muita modesta, mas com muita lucidez.
Ferreira Gullar
- Revista Política Democrática Online 26 - 17 de dezembro de 2020
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