Descrição
Ainda é cedo para saber se o impedimento da presidente Dilma ficará como um simples pé de página ou será um capítulo importante da história do Brasil. Em qualquer dos casos, O impeachment de Dilma Rousseff. Crônicas de uma queda anunciada, livro do jornalista Luiz Carlos Azedo, será um importante marco de pesquisa no futuro, e uma excelente lembrança para quem acompanha as notícias do dia a dia brasileiro.
Ao longo dos últimos anos, como leitor do Correio Braziliense, eu já havia lido todos os artigos que o Azedo nos oferece nesta sua obra. Ao reler cada um deles, desde que os fatos aconteceram, na curta distância dos meses, senti como se o autor fosse um historiador
em campo. Isto é possível porque ele é um profissional de imprensa com robusta, múltipla e variada bagagem de leitura. Por isto, reúne a sensibilidade de jornalista, do local e do agora, com o sentido do conjunto de conhecimentos relativos ao passado e ao presente e sua evolução, do rumo para o futuro.
Não se sabe, nem mesmo a história será capaz de dizer, se os caminhos do Brasil seriam melhores ou piores com a decisão do impeachment. Mas ao penetrar nesta instigante obra, a primeira conclusão é de que o processo se deu perfeitamente dentro da ordem constitucional. Ao ler os artigos do livro, sentimos dia após dia, quase como em um filme, a evolução rigorosa do processo constitucional.
Apesar de muitos duvidarem, fica a ideia de que Dilma e sua equipe ofereceram as razões jurídicas que levaram à interrupção de seu governo por crime de responsabilidade. As análises do autor e as vozes dos atores que aparecem são capazes de indicar a irresponsabilidade fiscal cometida e a constitucionalidade como ela foi julgada.
O livro nos deixa também informações que, além das razões jurídicas, permitem perceber que o impeachment poderia ter sido evitado se a presidente tivesse abandonado a arrogância como fez política, tido um mínimo de habilidade para ouvir as opiniões críticas, corrigir rumos errados e buscar uma coesão nacional.
Na conjunção histórica que reuniu: mobilizações de rua, desrespeito às leis fiscais, denúncias de corrupção na sua base de apoio, decadência na economia, falência fiscal do Estado federal e dos governos estaduais e municipais, e incapacidade de gestão, faltou à presidente a capacidade, dela e de sua equipe, para fazerem articulações no Congresso, entenderem a fadiga do governo petista de 14 anos – sem o carisma e o equilibrismo do ex-presidente Lula.
Não perceberam que o esgotamento político e o desprezo à boa gestão exigiam um novo governo que ocorreria fosse pela cassação da chapa no TSE, pelo impedimento de Dilma ou por uma reorganização geral das equipes política e administrativa da presidente, como lhe foi proposto por senadores imparciais e preocupados, que ela não soube fazer ou não quis, ou seus assessores não a permitiram.
A partir daí, a história se fez, como se os parlamentares fossem atores no palco e os jornalistas fossem locutores de um jogo que acontecia descontroladamente. O livro do Azedo ficará como um dos mais importantes dos que foram escritos sobre o momento, em cima do fato.
Mas, lido com cuidado, ele ajuda muitos de nós a perceber o que poderia ter acontecido se o impeachment não ocorresse. Embora seja impossível fazer história sobre hipóteses, é muito possível que o governo Dilma continuaria a usar as pedaladas como forma de encobrir as irresponsabilidades fiscais; que os gastos públicos seguiriam sem respeito aos limites da aritmética; que o eleitoralismo se manteria como lógica fundamental do governo; que o aparelhamento da máquina pública conduziria à decadência de grandes
Cristovam Buarque
- Revista Política Democrática Online – Edição 27 - 22 de janeiro de 2021
- Revista Política Democrática Online 26 - 17 de dezembro de 2020
- Revista Política Democrática Online 25 - 12 de novembro de 2020
Avaliações
Não há avaliações ainda.